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02 outubro 2006

Capítulo 02 – O olhar do turista (do Cariri)

2.1 – O olhar do viajante

Como pude comprovar no livro O Olhar do Turista, de John Urry, as pessoas quando viajam têm fascínio em ver como os outros exercem seu trabalho. Procuram, ao mesmo tempo, coisas distintas da sua realidade, exóticas, desconhecidas e coisas que o remetam ao lar, ao seu cotidiano, que pode ser desde uma comida caseira até uma casa ou paisagem que lhe lembre da infância.

O turista é uma espécie de peregrino contemporâneo, procurando autenticidade em outras “épocas” e em outros “lugares”, distanciados de sua vida cotidiana. Os turistas demonstram um especial fascínio pelas “vidas reais” dos outros, que, de certo modo, possuem uma realidade difícil de descobrir em suas próprias existências. (Urry: 1973, pág. 24/25)

Esse trecho me levou a pensar em algo bem prático: que talvez o que desperte o interesse no turista seja ver os outros trabalhando enquanto ele descansa. De ver pessoas que não estão dentro de sua realidade e contexto social, exercendo um trabalho totalmente diferente do seu. É uma espécie de perversão do lazer, já que envolve uma volta ao local de trabalho.

Turner (opud Urry: 1973, pág. 26) classifica alguns Ritos de Passagem do “peregrino”:

1. Separação social e espacial do lugar normal de residência e dos laços sociais convencionais.
2. Liminaridade: o indivíduo encontra-se em uma “antiestrutura (...) fora do lugar e do tempo”. Os laços convencionais são suspensos. Têm ligações intensas e experiências diretas com o sagrado e o sobrenatural.

3. Reintegração: o indivíduo é reintegrado ao grupo social anterior, habitualmente em um status social mais elevado.

Outro trecho bastante interessante de Urry diz respeito aos diversos tipos de impressões que os turistas desejam ter. Ao final acaba coincidindo com os Ritos de Turner. Embora se desenvolvam de diversas maneiras, dependendo de diversos aspectos sociais, terminam com o aspecto de que o turista sempre busca uma forma de turismo que contraste com sua realidade.

Não existe um único olhar do turista enquanto tal. Ele varia de acordo com a sociedade, o grupo social e o período histórico. Tais olhares são construídos por meio da diferença. Com isso quero dizer que não existe apenas uma experiência universal verdadeira para todos os turistas, em todas as épocas. Na verdade, o olhar do turista, em qualquer período histórico, é construído em relacionamento com seu oposto, com formas não-turísticas de experiência e de consciência social: o que faz com que um determinado olhar do turista dependa daquilo com que ele contrasta; quais são as formas de uma experiência não-turística. Esse olhar pressupõe, portanto, um sistema de atividades e signos sociais que localizam determinadas praticas turísticas, não em termos de algumas características intrínsecas, mas através dos contrastes implicados com praticas sociais não-turísticas, sobretudo aquelas baseadas no lar e no trabalho remunerado.


2.2.1 - impressões particulares sobre do olhar do turista

Percebi que muitas vezes o indivíduo se estressa mais planejando uma viagem que saia totalmente do seu contexto, do que se não tirasse férias. Nas grandes cidades, hoje, creio que deve ser mais estressante tirar férias e querer a todo custo curtí-la ao máximo do que trabalhar. Partindo desse princípio, o indivíduo busca incessantemente conhecer lugares onde as demais pessoas de seu convívio nunca tenham pensado em ir. Esse é um ponto a ser explorado para o incentivo do turismo no Vale do Cariri.
Além disso, percebe-se também que todo indivíduo que planeja sua viagem para lugares exóticos o faz com dois objetivos. Um talvez inconsciente, de querer se distrair mas procurar conhecer o trabalho alheio (ou uma forma de poder dizer a si mesmo que, enquanto os demais estão trabalhando, ele está ali só para se divertir e conhecer coisas novas). E consciente, ao fazer desse tipo de viagem, algo que lhe acrescente elementos culturais, creditando-lhe, assim, mais status, além do prazer do lazer.
Dessa forma podemos pensar que elementos produzem um olhar turístico diferenciado? São aspectos diferenciados do que as pessoas encontram diariamente em suas vidas cotidianas.

O turismo resulta de uma divisão binária básica entre o ordinário/cotidiano e o extraordinário. (Urry: 1973, pág. 28)

De qualquer forma, existem dois aspectos a serem explorados em Nova Olinda a partir da Casa Grande. Um é o próprio Vale do Cariri, sua origem jurássica, um vale cheio de nascentes em meio ao sertão. Outro é o lado social, ou, como diria Urry, pelo lado perverso do lazer, já que a fundação é mantida graças ao trabalho dos jovens que lá frequentam.


2.1 – Primeira flor – Aspectos Naturais de Nova Olinda

A chapada do Araripe é como a boca de uma cratera. Ao chegar no Crato, há uma floresta e, dentro, aquela cratera com um monte de cidades dentro. Cidades todas juntas. Todas são sítios arqueológicos.

A Chapada do Araripe surgiu quando estava havendo a separação dos continentes, da África e do Brasil, com a movimentação das placas tectônicas. Em um primeiro momento o mar entrou até a Chapada do Araripe, que era uma região de grandes lagos, com vida marinha, com piterossauros, dinossauros (segundo Alemberg, a pesquisa para o filme Parque dos Dinossauros foi realizada ali).

Foi o primeiro lugar onde surgiram as flores, segundo informação divulgada na exposição da Universidade Álvares Penteado sobre a Chapada do Araripe,

Era uma região viva. Então o mar entrou, com o afastamento das placas tectônicas, e matou a vida lá da água doce, os peixes pequenos. Esses peixes pequenos vieram para o fundo do lago, dando origem à vida marinha. Com uma nova movimentação das placas, o mar ficou fechado, formando um grande lago salino. A água, com o tempo, foi evaporando e a vida marinha não sobreviveu, originando fósseis cobertos pela erosão. Esses fósseis viraram pedras, as “pedras de peixe”, como a população local chama. São como retratos de 150 milhões de anos. Pedras com peixes dentro, que são usadas também como ornamentação das casas. (o piso da casa de Alemberg é todo dessa pedra, e ele afirma que pode-se enxergar as piabinhas)

Você vê as piabinhas na rocha. E isso se transformou em um ambiente especial, que virou um oásis. No Nordeste houve mudança climática em volta e a Chapada do Araripe conservou aquele oásis. O vale dos dinossauros. (...) E isso foi que gerou a cultura do Cariri. É uma região onde tem uma cultura forte justamente por isso. Porque foi o lugar, vamos dizer assim, um dos últimos lugares em que houve uma movimentação das águas bem especial. E que gerou esse ambiente. Eu digo que um dos lugares de energia do planeta é a Chapada do Araripe. Como a Chapada dos Guimarães, como outros pontos que são lugares em que você vê que existe uma energia. A Casa Grande de certa forma é um Beija-Flor que procura sugar essa energia e condensar lá dentro, para passar um pouco para as pessoas. É uma questão de visão. Não adianta você dar visão. Ninguém capacita ninguém. A pessoa é que descobre dentro dela. É como se fosse uma pessoa enxergando um universo pelo buraco de uma agulha. Você ter a capacidade de entrar... Por isso que eu acho que a história não é só capacitar. É conviver. É criar um ambiente e conviver.
AQ

Hoje a Chapada é conhecida por uma linha de densa mata de milhões de anos. Esconde, por entre trilhas e curvas, uma das maiores jazidas fossilíferas do período cretáceo do planeta e inúmeras fontes de água cristalina. Sob o sol escaldante do Sertão, reinam o cheiro da rapadura, o artesanato feito por mãos hábeis, cantos e danças que refletem o cotidiano do povo do lugar.

continua...

Essa casa

de Moraes Moreira

Essa casa é tão bonita
como a gente que habita
Desde a rua até a porta,
até a sala de visita,
até o fundo do quintal.
Todo mundo acredita
no objetivo igual.
Tudo que se reza e pede
é que Deus seja seu hóspede principal.
Essa casa é tão bonita
quando a inspiração visita
o coração do cantor.
Tem amor no jardim,
tem a flor do amor perfeito.
Tem um banco que foi feito
só para namorar.
Tanta coisa, e advinha
como eu me sinto feliz.
Alguma coisa me diz
que essa casa é a minha.

(Hino da Fundação)

Capítulo 01 – Sobre os envolvidos

1.1. Miniatura do Universo

Nasceu Francisco Alemberg de Souza Lima.
Francisco por promessa da tia que, por medo que o bebê fraquinho não vingasse, prometeu ao santo o mesmo nome. Só ela o chama assim.
Alemberg, nome do conde da novela que a mãe assistia.
É conhecido mesmo por Alemberg Quindins.
Mas de onde vem esse Quindins?

Quindins foi uma banda que a gente fez de música regional, e aí as pessoas depois ficaram me chamando de Quindins. O povo só chama de Quindins, tenho que gostar.

Tomou contato com as lendas e com o imaginário de Nova Olinda por meio de uma cabocla descendente dos índios Kariri, que lhe contava a história dos índios. Começou a criar imagens e sons a partir delas.

A partir daí, não parou mais.
Aos 9 anos, montou uma editora onde publicava suas histórias em quadrinhos. Já fez cinema, e toda a divulgação dele, para os moradores de Tocantins, onde morava na época. E ainda vendia o negócio nos seus quadrinhos: “Seja sócio da editora”.
O sócio, no caso, recebia carteirinha personalizada, desenhada pelo próprio Quindins, e tinha o direito de pagar meia entrada no cinema. A entrada? 10 palitos de fósforos, meia, cinco palitos. Ele se orgulhava de “sustentar” a cozinha de casa.
Conseguiu adesão de todos os meninos da cidade, que não tinham o que fazer naquele lugar que nem no mapa constava.
A professora lhes ensinava: “Olha, a gente mora mais ou menos aqui.”
Outra batalha que Quindins ganhou: conseguiu, posteriormente, colocar Nova Olinda no mapa.

Paralelo a isso ainda tinha uma banda, a Banda de Lata, que tocava nos desfiles de misses das meninas. E jogava bola. Ganharam um campo para jogar, com a condição de que o mantivessem limpo. No meio do campo havia um pé de Pequi, fruto típico do cerrado.
Para divulgar os jogos do campeonato no Campo do Pé de Pequi, também criou a revista Placar. Todas desenhadas à mão, com pôster personalizado, afinal, não havia xerox.
Toda essa obstinação e menos de 18 anos.
Quando chegou a essa idade, decidiu conhecer o mundo e partiu para a Marinha. Não saiu de dentro do navio. Desapontado, voltou para a cidade do Crato e começou a resgatar as lendas que ouvira de criança.
Casou-se com Rosiane, sua companheira até hoje. Saíram pesquisando tudo sobre o vale do Cariri, tentando resgatar musicalmente a pré-história do local. Compuseram músicas a partir das lendas, conversas e instrumentos rústicos regionais.
Para se manter, vendiam artesanato. Começaram a adquirir cada vez mais peças, doadas pelos moradores que não sabiam o valor das pedras do lugar.

Os agricultores quando iam fazer o plantio, muitas vezes batiam, achavam uma pedra, um
lítio, e aí então muitas vezes colocavam como peso para escorar a porta. Depois a gente foi resgatando isso, com a intenção de proteger aquele acervo. E foi fazendo uma catalogação das cavernas com pinturas rupestres. Esse acervo começou a ser visitado lá em casa por universitários. Eu peguei essa casa, que era a casa do meu avô e que deu origem à cidade de Nova Olinda.

E que, mais tarde, deu origem à Fundação Casa Grande.


1.2. Casa de sonhos

Então eu resolvi fazer o seguinte: uma casa onde resgatasse a mitologia e arqueologia desse povo. Agora, o interessante é o seguinte: eu me lembrava de um indiozinho de madeira, estava em meu subconsciente. Eu era muito pequeno, devia ter uns cinco anos, três anos. Como se fosse um sonho, mas eu tinha certeza de que aquilo aconteceu mesmo. Mas aí um dia, eu passando na casa dessa pessoa, eu perguntei. Ela disse: “sim, você vinha aqui quando era criança, o indiozinho está aqui.” E foi lá no baú e tirou. Hoje esse indiozinho está na entrada da Casa Grande. A gente chamou ele de Cariuzinho, que é dos Cariú, que era da tribo dos Kariri, família Cariú.*
* sobre as lendas que a cabocla lhe contava quando criança

Nova Olinda começou em um rancho onde Garcia D’Avilla aportou para começar o processo de sesmarias no Brasil. Lá começou o ciclo do couro, o início do comércio do gado. No lugar em que passavam, deixavam aqueles ranchos de comboeiros. Ali surgiu a tribo dos Cariú, da família Cariri. D'Avilla construiu uma tapera, que hoje é a Casa Grande. O avô de Quindins a comprou, na época. Em 1992, o próprio Quindins resolveu transferir pra lá todo o acervo que já havia resguardado.
O indiozinho virou personagem das histórias em quadrinhos que os meninos de Quindins escrevem. Ele é um ser encantado que leva os meninos no tempo para conhecer a “época das lendas”.
A escola funciona de segunda a domingo, das 8 às 17 horas, e oferece atividades extracurriculares a crianças e jovens entre 3 e 20 anos. Para participar, é obrigatório estar matriculado no ensino formal. O espaço conta com uma videoteca com 500 fitas sobre história do cinema, documentários educativos, desenhos e filmes, uma brinquedoteca e uma biblioteca com 1.500 títulos, aberta à comunidade. As crianças de 3 a 9 anos passam a tarde na Escolinha de Iniciação à Casa Grande, onde participam de atividades lúdicas. Já os mais velhos fazem acompanhamento pedagógico ou um curso de preparação ao vestibular. Todos os participantes passam pelos laboratórios de comunicação da escola. "Neles, as crianças aprendem fazendo, e os mais velhos ensinam os mais jovens", afirma Rosiane Limaverde.

Os 4 programas na fundação:

1. Memória
- resgate da mitologia e arqueologia/ museu
Alemberg e a esposa, Rosiane Limaverde, durante anos pesquisaram a música e a geografia da região, reunindo objetos, mitos e lendas da Chapada do Araripe e do Vale do Cariri, onde fica Nova Olinda. A região é rica em fósseis, objetos e pinturas rupestres. A atenção despertada por esse inusitado museu do sertanejo "pré histórico" foi o estopim para a criação da Escola de Comunicação Meninada do Sertão.
- proteção dos sítios arqueológicos da região, instruindo as pessoas em como preservar.
As crianças estudam as lendas e os mitos da região, assim como primeiras formas de expressão gráfica do homem. Muitas delas se tornam recepcionistas do museu, repassando aos visitantes tudo o que aprenderam.


2. Comunicação
- rádio – em parceria com a UNICEF, capacitam crianças para a elaboração de programas de rádio. Hoje o programa já está em Angola e em Moçambique. São programas DE crianças PARA crianças.
A idéia é fazer com que as crianças e os jovens tenham contato com vários estilos de música e se tornem locutores, sonoplastas, produtores e repórteres.
Mêires Moreira começou na rádio aos 10 anos fazendo o programa infantil Planeta Criança. Hoje, aos 21 anos, é produtora e locutora do programa diário Papo Cabeça. Mêires foi convidada pela UNESCO a fazer parte de um Grupo de Trabalho Jovem sobre AIDS. O convite gerou viagens e reuniões com outros jovens brasileiros em várias capitais.
Todos os dias Valeska Cordeiro, 13 anos, comanda o programa infantil da rádio, o Submarino Amarelo, no qual "embarcam" cerca de 20 crianças que estão aprendendo a arte de fazer rádio para outras crianças, diariamente, das 13 às 14 horas. É ela quem separa as músicas e, conversando com os demais colegas, decide qual será o tema do dia: coisas saudáveis que a meninada pode e deve fazer, como o quanto é bom ir à escola para aprender a gostar de ler.
Outras crianças também têm seus programas na rádio que começou em 1995, ao vivo, com apenas um transmissor e 4 auto-falantes (material abandonado de uma igreja), transmitido somente nos finais de semana. Em 1998, foi reconhecida pela ANATEL como rádio comunitária e sua programação passou a ser diária (das 5 horas da manhã às 10 horas da
noite).

Quando a gente começou a nossa rádio FM, eram quatro alto-falantes em cima da escola. Fazíamos uma programação pra comunidade. Então o Unicef se interessou e doou uma parcela de dinheiro pra gente ampliar nosso sistema de alto falantes. Espalhamos mais cinco alto-falantes pela cidade. Depois o Unicef viu que estava tendo comunicação com a cidade e aí a nossa rádio passou a ser FM.
Miguel Barros Filho - Gerente do Museu / estudante

O objetivo da rádio agora é alcançar o status de educativa, podendo operar com maior alcance, chegando a toda região do Cariri – Crato, Juazeiro, Assaré, entre outras cidades.


- TV Casa Grande
No início, o museu da Fundação começou a atrair a imprensa. Vinha repórter de rádio, de TV. A criançada ficou louca com aquilo! A mídia parecia um disco voador que tinha baixado na cidade, a gente nunca tinha visto uma câmera na vida. Aí as crianças chegaram no Alemberg e disseram que queriam aprender a filmar. Por uma lei estadual de incentivo, o UNICEF cedeu a primeira câmera VHS pra gente. Foi então que começamos a brincar de fazer TV, vídeo. Eu sempre fui meio curioso, imagine um peixe que passa a vida no aquário e de repente vê o mar...
João Paulo Maroto, 21 anos, gerente da TV Casa Grande

É a primeira tv produzida integralmente por crianças. Funciona hoje dentro da Fundação e conta com uma equipe de quatro pessoas entre 18 e 21 anos, além de três aprendizes com 12 e 13 anos. Em um estúdio pintado de azul e uma salinha que serve como ilha de edição, as crianças aprendem a manipular a DV-CAM, uma câmera digital de vídeo, um aparelho DAT para captação digital de áudio e também um software de edição. No início, o alcance era de apenas 5 quilômetros para testar a qualidade e abrangência da transmissão. Em 2001, a ANATEL acabou com a brincadeira e lacrou os transmissores. Agora, os programas produzidos são gravados e exibidos no teatro da Fundação, até sair a sonhada licença para operar como TV comunitária.

- Editora – com jornal e revista mensais.
Sansão, Boin, Cacá e Margarida são alguns dos personagens das histórias em quadrinhos criadas pelas crianças. Na Casa Grande Editora já foram editadas 14 revistinhas. Um jornalzinho quinzenal é distribuído aos visitantes da fundação e aos patrocinadores. Nesse espaço são formados diagramadores, roteiristas, cartunistas, programadores visuais e designers gráficos.

3. Arte
- Cinema – criação de filmes e estudo. Têm a TV Produz, programetes com depoimentos que passam antes de cada sessão de cinema, foi batizada de Sem canal, por conta do corte da ANATEL. Tem qualidade profissional na ilha e produção de DVDs.
Além disso a Fundação possui um cineclube, onde o povo conhece filmes e curta-metragens brasileiros e produções da meninada. Eles encontraram sua própria linguagem e estética para filmar, filtrando o que assistem na tv e vêem na telinha. O cineclube é uma parceria da Petrobrás.
A partir de uma certa idade, também apuram o senso estético da meninada as imagens de mestres como Tarkovsky, Bergman, Antonioni, Pasolini e Hitchcock, em sessões lotadas com até 200 pessoas.

- Música – a iniciação à música é feita pela Bandinha de Lata. "Os instrumentos são de lata e madeira, não produzem som; as crianças é que fazem o som com a boca. Nessa fase, estão iniciando a familiarização com o ritmo", afirma Rosiane.
Em 2000, durante dois meses a banda participou do espetáculo Mãe Gentil, de Ivaldo Bertazzo, com Zeca Baleiro, no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Os mais velhos integram a banda de pop e rock Os Meninos da Casa Grande e, em parceria com Rosiane e Alemberg, apresentam o show A Lenda, no qual relatam a história dos cariris. No espaço, há uma oficina de construção de instrumentos musicais de percussão. Os alunos estudam também repertório musical, estilos, ritmos e compositores.
Existe também a banda de música instrumental, que mistura jazz com ritmos locais, nordestinos.

- Artes Cênicas - São realizadas oficinas, espetáculos e teatro de bonecos. Atualmente está sendo construído no terreno da fundação um teatro com capacidade para 150 pessoas, financiado pelo governo do Ceará.


4. Turismo Solidário
A ideia de captar turismo nasceu em cima de uma demanda. A Casa Grande recebe 3 mil visitantes por mês, vindos de todos os lugares. Estudantes de outros países, pessoas interessadas em pesquisas.
Foram criadas, então, as pousadas domiciliares, onde os moradores (e pais dos jovens que frequentam a fundação) são instruídos a construir mais um quarto com banheiro para que os visitantes tenham onde ficar e que seja acessível, tanto do ponto de vista turístico quanto ecônomico.
Os pais, muitas vezes, são também guias turísticos e/ou motoristas.
É cobrado um valor de 40 reais para que o turista tenha acomodação e todas as refeições. Desse valor, 80% é destinado à reposição do material gasto e investimentos na própria pousada. 10% vai para a manutenção da cooperativa (de pais, para os trazerem como aliados para a fundação) e 10% para um fundo de educação (pagamento do transporte a todos os estudantes que passarem no vestibular, já que a Universidade, a URCA, fica em Crato, a 42 km). São oferecidos também cursos de hotelaria e gerenciamento de pequenos negócios voltados para o turismo.

De modo geral, a escola de comunicação de Quindins tem como objetivo abrir a visão das crianças que a frequentam e diversificar seu modo de ver as coisas.
Um detalhe curioso nisso tudo é que a Casa Grande não possui site. Até há pouco tempo não possuíam internet também. Adquiriam há pouco dois pontos de internet, um pelo MINC, com o Ponto de Cultura, e outro pelo Criança Esperança,hes doou um laboratório.
Para Quindins, o importante é a origem e o conteúdo. Coisas que ele mantém vivas nas crianças, já que a fundação é toda “comandada” por crianças e jovens.
Boa parte daquilo que a gente sabe, na realidade, não serve muito para a sobrevivência da gente.
Esse é o espírito da Casa Grande, de constar no mapa, de querer saber qual a importância de estar no mapa de seu país. Da criança ser incluída socialmente como pessoa. E acima de tudo, formar comunicadores, para que eles descubram o mundo.

Eu digo: se tudo isso aqui não der certo para os outros, deu para mim.
Alemberg Quindins

Introdução

Ser designer não é fácil. Principalmente quando se trabalha com amigas e elas são jornalistas.
Mariana é o nome de uma delas.
Também na reta final da faculdade, já mudou umas 5 vezes o tema do seu projeto final. Mas acredito que agora decidiu. Independente do tema, ela já havia resolvido duas coisas: que faria um livro e que EU faria o layout.

Como eu queria, para o meu projeto, um tema relacionado à cultura popular brasileira, decidi fazer com ela esse registro sobre a Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri, em Nova Olinda/PE.

A intenção é que esse registro seja acessível. Ele deverá ficar disponível para ser baixado na internet. Ainda não especificamos um formato final para ele. Pode ser somente um livro, ou um projeto mais elaborado com pequenos livros em um box, um livro com postais, enfim, diversas possiblidades gráficas.


Por enquanto só Mariana irá conhecer o sertão. Ela está pesquisando a melhor forma de chegar ao Cariri, assim como toda a logística e os custos que isso implicará. Nova Olinda fica a 540 km de Fortaleza. Próxima a Juazeiro do Norte, quase na divisa com Pernambuco, no Vale do Araripe. De Recife são 640 km.
O acesso a Nova Olinda é feito de ônibus, vindo de todas as capitais do Nordeste via Juazeiro do Norte-CE, ou de avião, de São Paulo e Fortaleza. As viagens de ônibus duram em média de 8 a 9 horas, tanto de Recife quanto de Fortaleza, saindo à noite e amanhecendo em Juazeiro do Norte ou no Crato. Juazeiro e Crato são duas cidades de médio porte do Ceará interligadas entre si. Quem escolhe descer no Crato deve pegar um transporte coletivo, que sai de hora em hora rumo a Nova Olinda e deixa o passageiro na porta da Fundação Casa Grande, onde será recebido pelos guias que o conduzirão até às pousadas.

Mas voltemos ao começo de tudo. Essa história começou mesmo com uma entrevista (das mais bacanas de todos os tempos) feita com o idealizador da Fundação Casa Grande, Alemberg Quindins. Ele foi entrevistado para o
Almanaque Brasil, revista em que trabalhamos. Após pouco mais de uma hora de conversa, descobrimos a bela história da Fundação.
Ele é um gênio. Ficamos boquiabertos com sua generosidade, simplicidade, inteligência e, principalmente, bom-humor. Cresceu no meio do nada, quando Tocantins não era Estado e ele era "um menino fora do mapa". Hoje, viaja o mundo para contar sua experiência na Fundação.

Lá, Alemberg não quer formar comunicadores. Quer que por meio da comunicação as crianças descubram o mundo. Disse que, na verdade, está formando futuros dirigentes para o país.


Criada em 1992, a Fundação Casa Grande é uma ONG que tem como missão educar crianças e jovens sertanejos em gestão cultural por meio de seus programas de memória, comunicação, artes e turismo.
É um misto de museu e centro cultural freqüentado por crianças e jovens da cidade. Ali, produzem vídeos, jornais e revistas em quadrinhos, além de administrar a Rádio Casa Grande FM, cujo sinal atinge sete municípios vizinhos.
Conta com o apoio de entidades de peso como o Unicef, o Instituto Ayrton Senna, Governos estadual e municipal e as universidades Federal do Ceará e Regional do Cariri.
Além disso, envolve toda a familia da meninada no projeto por meio da criação da COOPAGRAN, uma cooperativa dos pais dos jovens frequentadores da fundação, que cuida da recepção e estadia dos turistas na cidade.

Apesar de já apoiado por muita gente, poucos realmente conhecem a profundidade e extensão do projeto realizado por Alemberg Quindins. Ele já implantou projeto semelhante até mesmo na África. A Banda de Lata da Fundação, onde as crianças iniciam sua musicalidade, está na Alemanha para se apresentar em um festival. Tudo isso começou na pequena cidade cearense de 12 mil habitantes chamada Nova Olinda que hoje é um exemplo para o Brasil.

Um exemplo que queremos divulgar, pelo trabalho bem feito e bem-sucedido de Alemberg e pela importância cultural da Fundação na cidade.


ENTIDADE: Fundação Casa Grande (Nova Olinda)
TELEFONE: (88)3546.1333 / (88)3523.4104 / (88)3521.6588
FAX: (88)3546.1333 / (88)3523.4104
CELULAR: (88)9966.1874
E-MAIL: casagrande@baydejbc.com.br

HELLLP

Por favor, alguém sabe como eu me livro desses marcadorezinhos ridículos que listam os links???